Visão de Mundo
HORIZONTES E ABISMOS
Agosto de 2018
“-Pra que serve isso!?” A princípio não entendi, mas logo vi que minha amiga se referia àquela pequena floresta à margem da estradinha de chão. Ela não compreendia que valor poderia haver num lugar desabitado. Para mim, era um ponto-de-vista simplesmente absurdo, mas logo percebi que estava diante de um necessário choque de realidade. Compreendi que representávamos duas visões de mundo inconciliáveis. Com o passar dos anos, vi o quanto esta cisão estava disseminada por toda parte. Onde quer que eu fosse, via pessoas reverenciando este mundo simplesmente pelo que ele é, enquanto outras, o tratavam como se fosse um buffet, para ser simplesmente consumido.
Observando as pessoas que aprenderam a reverenciar o mundo, entendi que não basta ter olhos: é preciso saber abri-los. E que uma vez abertos, eles revelam um manancial interminável de espantos e maravilhas. Mas para suportar tamanha visão, é preciso também desenvolver um outro olhar, um olhar para aquilo que não é visível: a energia que conecta todas as coisas, e que dá sentido à existência.
Mas era preciso também olhar com atenção para o outro lado da moeda. E me vi diante de um imenso contingente de seres em constante estado de agitação, permanentemente ocupados em preencher cada espaço vazio. Observando-os, percebi que jamais descansam, pois segundo a sua visão das coisas, é preciso reinventar o mundo. E antes que alguma dúvida os aflija mais ainda, tratam de transformar tudo à sua própria imagem e semelhança, esparramando-se em pontos-de-fuga que cobrem a terra de asfalto e cimento, em busca de um descanso que suas almas jamais encontram.
Mas foi vivendo em Torres, que os dois lados desta moeda se revelaram com toda clareza. Um deles, ao qual acredito pertencer, entende as coisas a partir da obviedade de que somos todos temporários, e de que precisamos, portanto, de muita cautela em cada ação que exercemos sobre estes ambientes tão belos e delicados. Pois isto envolve pessoas que ainda estão por nascer. Mas a outra face da moeda se agarra firmemente à velha crença de que a natureza deve ser simplesmente superada, e entende o mundo como se fosse uma linha reta, sem limites a respeitar. Oculta por uma sofisticada tecnologia, esta visão das coisas consegue esconder sua verdadeira e primitiva face, e investe perigosamente num projeto sem sentido, que é o crescimento ilimitado.
Olhando Torres ao longe, vejo então dois cenários. Um é brando, de uma harmonia que o tempo engendrou. O outro, se ergue em uma exuberante desarmonia, como se o tempo nunca tivesse existido. O primeiro tem um olhar para o futuro. O segundo, apenas faz apostas. De tanto olhar para o mundo que os homens não construíram, aprendi que a circularidade do planeta não é casual, e que tudo o que lançamos à terra, colhemos, cedo ou tarde, mas sempre na hora certa. Por isso cada vez vejo menos sentido no comportamento dos que não respeitam limites. A esses, que preferem entender o mundo como se ele fosse plano, lembro que houve um tempo em que os homens singravam por aí em caravelas, e acreditavam na mesma coisa. Para eles, o mundo terminava abruptamente, em algum ponto impossível de determinar, mas cujo significado percebiam claramente.
Antes de concluir, é necessário relatar algo muito simbólico. A pessoa que motivou este texto, a autora daquela inocente e absurda pergunta, mudou. Passou a observar os horizontes e entendeu por que eles jamais terminam. E ao entender isso, mostrou que não existem dois lados, mas apenas uma moeda. J. H.
As obras que ilustram esta edição, são de autoria de Jorge Herrmann e estão disponíveis para aquisição. São estas, pela ordem: 1) “Jardim Botânico” (bastão aquarelável sobre papel – 59×41 cm – R$ 350,00); 2) “A Pedra Furada de Urubici” (grafite – 21×15 cm – R$ 200,00); 3) “O Elo” (lápis carvão sobre papel – 82×51 cm – R$ 400,00); 4) “Aurora na Ilha dos Lobos” (acrílica sobre tela – 100×70 cm – R$ 1.200,00); 5) “O Pesqueiro Feio” (acrílica sobre tela – 30×30 cm – R$ 430,00).
Contatos:
arte@jorgeherrmann.com; facebook.com/jorge.herrmannn.7; (51) 992.407.038 (whatsapp)
Para conhecer a obra de Jorge Herrmann, visite a Galeria de Arte do Espaço Ten Caten
em Torres/RS (rua José Picoral, 174) ou acesse: www.jorgeherrmann.com